O Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madaíl, efectuou, juntamente com o Presidente da Associação Portuguesa de Ética Empresarial, Mário Parra da Silva, o discurso de abertura da 4ª Edição da Semana da Responsabilidade Social, que decorrerá entre os dias 4 e 7 de Maio, na Fundação Calouste Gulbenkian, sob o tema “O mundo pós-crise: a ética e a responsabilidade social fazem parte da solução.
Gilberto Madaíl reforçou que “é com enorme prazer que a Federação Portuguesa de Futebol se associa à quarta edição da Semana da Responsabilidade Social”. Eis o discurso completo do Presidente da Federação Portuguesa de Futebol:
“A co-organização do evento, concretizada neste primeiro dia com o programa da Sala 1, onde decorrerão intervenções e colóquios relacionados com o futebol, é, talvez, a mais visível vertente da ligação da FPF à Associação Portuguesa de Ética Empresarial, que saúdo vivamente na pessoa do seu Presidente, Mário Parra da Silva, cujo esforço e trabalho nos domínios da Ética e Responsabilidade Social são um exemplo de nobre dedicação a causas por vezes negligenciadas mas que cada vez mais são reconhecidas como o factor decisivo e diferenciador entre modelos de desenvolvimento.
A FPF tem como principal missão promover, organizar, regulamentar, controlar o ensino e boa prática do futebol, em todas as especialidades e competições mas tem igualmente uma função social que vai além da desportiva, não só pela força e dimensão social da modalidade que tutela mas também pela influência que exerce na aproximação das populações e na promoção do nosso país.
A Federação tem já tradição no que diz respeito à intervenção cívica em variadíssimas acções de solidariedade, muitas vezes feitas de forma anónima e não publicitada, ou até na implementação de normas internas de conduta ética destinadas aos seus funcionários.
É exemplo disso a recente criação e implementação do código de normas e procedimentos que passou a ser uma referência social e institucional fundamental para o desempenho e prática profissional de todos os nossos colaboradores.
O modo como a FPF é vista no exterior resulta não apenas dos seus resultados ao nível das Selecções Nacionais e clubes, mas também do modo como se relaciona com os seus parceiros e, claro, o modo como os seus colaboradores se relacionam entre si e com o exterior.
É, também por isso, cada vez mais importante e pertinente que a Federação Portuguesa de Futebol se comprometa fortemente com um comportamento eticamente correcto como factor de desenvolvimento. Esta consciência é assumida como prioritária e enquadra-se na crescente adesão a esta prática por parte das organizações modernas com preocupações de sustentabilidade e de qualidade. Existe por seu turno um normativo que se destina especificamente a todos quantos têm a nobre missão de representar o país. O regulamento das Selecções Nacionais não pretende formatar os comportamentos de jogadores, treinadores e staff das Selecções Nacionais - e todos sabemos que o erro faz parte da condição humana, sobretudo numa actividade tão carregada de emoção e competição - mas todos os que envergam a camisola das quinas sabem que há um conjunto de regras que devem ser respeitadas e que são, no fundo, a emanação de alguns dos valores pelos quais a FPF se rege, ou seja: A Dignidade e a cortesia; A Seriedade e a honestidade connosco e para com os outros; A Responsabilidade; O Controlo emocional; A Humildade; E, por último, mas não em último lugar, o Respeito por todos, incluindo especialmente pelos adversários e as autoridades em campo e fora dele. Penso por isto, de resto, que a nossa instituição também merece esse mesmo respeito… Não será importante nem adequado enumerar as ajudas, parcerias ou donativos entregues pela FPF a instituições de solidariedade social mas valerá, porventura, a pena pensar um pouco na intervenção e na mensagem que o futebol deixa na sociedade portuguesa. Não nego, ninguém negará, que há casos e exemplos negativos no futebol, e não é preciso recuar muito no tempo para nos lembrarmos de alguns. No entanto, a verdade é que o futebol dá muitíssimos mais exemplos de desportivismo, respeito, fair-play, solidariedade, camaradagem e abnegação do que exemplos contrários. O problema é que as situações mais polémicas ou chocantes sob determinado ponto de vista são repetidas e ampliadas até à exaustão pela sociedade altamente mediatizada em que vivemos. Não questiono as livres opções editoriais nem as regras ou critérios que as norteiam, no entanto deixo aqui o desafio a todos quantos têm responsabilidade nesta matéria: Não valerá a pena dar verdadeiro destaque aos aspectos positivos da actualidade? Será mesmo verdade que o que não é polémico não “vende”? E serão só as “vendas” / “audiências” ou “tiragens” o principal objectivo dos “media”? Não haverá dezenas, centenas, milhares de apertos de mão e trocas de camisolas no fim dos jogos de futebol? Não haverá tantos exemplos pela positiva da intervenção do futebol na sociedade, como por exemplos os magníficos trabalhos das Fundações de jogadores e ex-jogadores, ou de clubes e instituições? O desporto em geral e o futebol em particular não contribuirão para um crescimento saudável e para o enraizamento de valores de companheirismo, espírito de grupo e dedicação ao trabalho nas novas gerações que o praticam nas escolas, nos bairros, nos clubes, etc. etc.? Deixo aqui estas questões. Mas mais do que questionar os outros, cabe às instituições como a FPF questionarem-se a si mesmas e perguntar o que podem fazer para melhorar a sua actividade, a dos seus associados, de forma a contribuir para uma sociedade mais equilibrada. Apesar da dificuldade do desafio, agravada nestes tempos de crise económica, acreditamos que temos algumas respostas ou pelo menos um caminho num conceito introduzido há pouco tempo de forma oficial pela UEFA e que a FPF vai firmemente adoptar. O do FAIR-PLAY financeiro! O pressuposto desta premissa é que o Futebol antes de ser uma indústria é um desporto, sendo preciso conservar e defender os seus valores mais essenciais. Posto isto, acreditamos que o meio para chegar a este FAIR-PLAY financeiro é só um: o do LICENCIAMENTO, ou seja a adopção de um conjunto de regras e critérios que deverão ser obrigatoriamente cumpridos antes e durante as competições e sem os quais os Clubes ou SAD’s serão excluídos ou penalizados de alguma forma. Está já criado, no seio da FPF, para já com vocação para o licenciamento necessário para a participação nas competições europeias, um Órgão de Gestão de Licenciamento composto por peritos jurídicos e financeiros. A nossa proposta é que este organismo, recorrendo não só à experiência que já tem mas sobretudo e também aos contributos da LIGA, de clubes, SAD’s e respectivos dirigentes, jogadores, treinadores e restantes intervenientes, possa assumir a liderança do processo de Licenciamento nacional que queremos ver implementado. Posso, desde já, adiantar a notícia de que a Direcção da FPF vai levar à próxima Assembleia Geral uma proposta de Manual de Licenciamento. É apenas uma proposta, que prevê, naturalmente, um regime de transição, e para a qual queremos contar com as contribuições de todos. O Sistema de Licenciamento tem, entre outros, os seguintes objectivos: • Garantia de que cada clube tem um nível adequado de gestão e organização; • Melhoria da capacidade económica e financeira dos clubes, aumentando a sua transparência e credibilidade, e atribuindo a necessária importância à protecção dos credores, em especial os funcionários, jogadores e o Estado • Adaptação das infra-estruturas desportivas dos clubes que ofereçam aos espectadores e meios de comunicação social estádios bem equipados e seguros; • Controlo da equidade financeira nas competições; De uma vez por todas, temos que ser capazes de perceber que os problemas financeiros que o futebol atravessa não podem continuar a ser debelados com paliativos. É preciso ter a coragem para agir e se for preciso tomar medidas enérgicas para moralizar este sector mesmo que isso implique profundas reformas, independentemente das respectivas consequências. É uma tarefa muito complicada mas ela só será impossível se nada fizermos ou tentarmos. Queremos que as finanças do futebol sejam mais transparentes e rigorosas para que não haja concorrência desleal entre cumpridores que controlam orçamentos e têm as contas em dia e incumpridores que a troco do sucesso desportivo imediato comprometem o futuro das instituições que servem. Este é o primeiro passo para a criação de medidas concretas que promovam o 'fair play' financeiro". Mas mesmo que estas e outras medidas preventivas sejam aprovadas pelos sócios da FPF em Assembleia Geral, há, neste momento, situações dramáticas às quais não podemos fechar os olhos.
O flagelo dos salários em atraso atinge, infelizmente, vários sectores do nosso tecido empresarial mas a FPF, como compreenderão, é especialmente sensível aos casos que afectam directamente os seus membros, nomeadamente os grandes protagonistas do futebol – os jogadores. Foi por isso que decidimos atribuir a primeira edição do Prémio Fair-Play FPF, a título colectivo, aos jogadores de futebol que enfrentam situações de incumprimento salarial, e que têm demonstrado um fantástico espírito de perseverança, determinação e desportivismo ao continuarem todas as semanas a trabalhar por vezes em condições inimagináveis. 35.000 mil euros não resolverão todos os problemas mas podem contribuir para ajudar a melhorar as situações mais graves e urgentes. É por isso que vamos entregar um cheque ao Fundo de Solidariedade do Sindicato de Jogadores, na pessoa do seu Presidente, uma vez que este sócio da FPF tem um melhor e mais profundo conhecimento da realidade concreta e, com a sua experiência e reconhecido esforço no auxílio de situações delicadas, poderá canalizar rapidamente algumas verbas para os mais necessitados. Termino desejando que os trabalhos da Semana da Responsabilidade Social sejam proveitosos e que deste fórum saiam conclusões e propostas concretas para os mais variados ramos de actividade. Estarei, como é óbvio, particularmente atento às intervenções da Sala 1, nesta segunda-feira, para a qual desde já convido todos os presentes, e cujos trabalhos serão iniciados, para grande honra nossa, pelo Sr. Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Dr. Laurentino Dias, que tem sido protagonista e testemunha de variadíssimas acções de responsabilidade social com a colaboração do futebol e sobre as quais, estou certo, ouvirão falar ao longo do dia. | |
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