sábado, abril 10, 2010

EXCLUSAO

A melhor Escola de Futebol do Mundo está a eclipsar-se!

O Futebol de Rua é cada vez tido com menor consideração no Futebol, quando deveria ser exactamente o contrário, pois prima aquilo que hoje em dia deveria ser primado: o relacionamento com a bola. O Futebol de rua permitia a todos os miúdos, e graúdos também, jogar em diferentes contextos que lhes levantavam uma variabilidade de problemas, aos quais os jogadores tinham de dar resposta através de soluções criadas no momento ou por imitação de outros colegas que tinham sucesso no que faziam. O Futebol de Rua era, por isso, um momento de criação/recriação e de potencialização exponencial por excelência.

O Futebol de Rua constituía-se como um espaço fundamental para a construção de Talentos (Messi, Maradona).

Hoje em dia a preocupação dos pais passa por oferecer aos filhos a educação mais diversificada possível, o que por um lado é louvável, mas por outro acaba por retirar tempo e espaço às crianças, pois não lhes permite ter manobra para as suas brincadeiras essenciais, de modo a poderem exprimir o seu lado criativo.

Verdade que os espaços para o Futebol de Rua são cada vez mais diminutos, dificultando assim a realização do mesmo. Face a estas barreiras, ou seja, face às dificuldades que são impostas pelo próprio desenvolvimento da sociedade, o grande conjunto de vivências que estava associado ao Futebol de Rua (todas elas fundamentais para a construção de Talentos) estão comprometidas, assumindo-se deste modo o Futebol de Rua como uma realidade cada vez menos presente nas sociedades actuais.

Este acesso cada vez mais restrito à melhor Escola de Futebol está a comprometer a qualidade do Fenómeno, que está associada de uma forma directamente proporcional com a diminuição do Futebol de Rua.

A prova disso encontra-se no Futebol que está a ser mecanizado, que está ser formatado, pois o espaço de manobra de criação e recriação para os jovens é cada mais restrito. O Futebol de Rua permitia às crianças ter uma percepção ajustada da realidade, o que lhes conferia uma capacidade de intervir sobre a mesma, pois a rua dava-lhes uma variabilidade de problemas aos quais teriam de responder por elas próprias, e sobretudo, de uma forma não mecanizada. Como todos os dias surgiam novos problemas, levava-os à criação de novas resoluções, novos ajustamentos, novas adaptabilidades à realidade! Isto permitia também às crianças adquirir um conjunto vasto de (re)soluções para um mesmo problema, o que fazia com que tivessem uma maior capacidade para gerir as circunstâncias contextuais. Isto permitia a construção dos Talentos.

Pois Talentos são os jogadores que erram menos que os outros, apresentando um leque de opções mais vasto para determinado problema, onde a diversidade permite concretizar as acções de uma forma variada, conseguindo jogar quase sempre com sucesso, através da capacidade (re)creativa... 

fONTE - SERGIO FERREIRA

1 comentário:

  1. Gostei do que li, o que para alguns é uma vergonha ou fingem não ver para outros é a realidade que vivemos e que nada podemos fazer para a combater, o futebol de rua é provavelmente o melhor segredo do futebol aquele que motiva, inicia e nos pode fazer compreender o fenomeno que liga a personalidade da pessoa ao objecto fantastico que é uma bola, imaginem só o que era quando no meu tempo de gaiato tinha de enrolar meias usadas para recriar uma bola e passar tardes inteiras desfrutando da alegria que isso me dava, de certeza que muitos jovens de hoje em dia não compreendem esse fenomeno e se preocupam mais nos atacadores, meias rotas, nas marcas do equipamento e do estado do campo do que na entrega da sua alma ao jogo e em prol de uma equipa.
    Abraços
    E. Borges

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