quarta-feira, janeiro 29, 2014

FORMAÇAO

UM TEMA ACTUAL
Alguns pais (in)dispensáveis no futebol de formação!

Trago hoje à baila um tema que sempre irá dar que falar: a intervenção dos pais na formação dos jovens jogadores.
É um tema que pode ser abordado de diversas formas e que suscita sempre discórdia quer de um lado (treinadores) quer do outro (pais). Óbvio que existe uma diferença enorme de acordo com a realidade em que o jovem esteja inserido, isto é, se o jovem está num clube de topo ou num clube completamente amador. Isto é, num clube amador os pais têm um papel mais activo do que num clube dito de topo em que os pais têm menos intervenção. Claro que tudo isto depende muito dos ideias e das regras do clube, mas já vi pais que durante os treinos fazem por acompanhar todo o processo, estando mesmo a assistir às sessões de treino a uns meros metros de onde esta se está a realizar. Uma vez por outra lá mandam um ou outro “feedback” na ânsia de corrigir um erro do seu filho ao qual este reage com desaprovação e alguma vergonha da situação. Mas vamos então àquilo que deve ser abordado.
Eu quero começar por referir já duas formas de estar que acabam por definir o comportamento dos pais: aqueles pais que se preocupam e têm um papel activo na formação do seu filho e que também estão dispostos a ajudar o clube; no lado oposto os pais que têm uma postura desadequada em relação ao clube, treinador e até mesmo à equipa na qual o seu filho está inserido e que em nada ajudam o seu filho no crescimento desportivo.
Papel dos pais e o seu envolvimento na formação dos seus filhos
O conceito de envolvimento dos pais no desporto, segundo Hellstedt (1990), vai do subenvolvimento ao envolvimento moderado e, por fim, ao superenvolvimento. Hellstedt define o subenvolvimento como uma relativa falta de comprometimento emocional, financeiro ou funcional dos pais, que tem como indicativos a falta de comparecimento a jogos e eventos. Pouco envolvimento em actividades voluntárias (tais como o transporte), pouquíssimo contacto com os treinadores. No envolvimento moderado, considerado pelo autor como sendo o ideal, os pais são firmes nas suas orientações, dando suporte e ajudando os filhos a estabelecerem metas realísticas, além de serem financeiramente participativos. O superenvolvimento ocorre quando os pais se excedem na sua participação na vida desportiva dos filhos, não sabendo separar os seus próprios desejos, fantasias e necessidades daquelas dos seus filhos. Hellstedt verificou que baixos níveis de pressão estão relacionados com uma reacção positiva dos filhos. Ao contrário, altos níveis de pressão indicam reacções negativas. Sugeriu ainda, como problema principal, identificar o nível ideal de pressão que os pais podem exercer sobre os filhos para que tenham uma reacção positiva, tanto no treino como na competição.

Pais indispensáveis
De todos estes pais penso que se poderá esperar as seguintes acções:
. Facilitar a assistência e as deslocações quer para treinos ou jogos; 
. Evitar comparações entre o futebol profissional e o futebol de formação;
. Facilitar o trabalho do treinador (não interferir nem tentar substitui-lo, não tecer criticas diante dos jovens e dos outros pais;
. Não provocar situações em que obrigue o seu filho a decidir entre os critérios do treinador ou do pai;
. Evitar situações embaraçosas para o filho quando se encontra entre pessoas que este aprecia;
. Trocar opiniões – nunca técnicas – com o treinador, mas em momento e lugar adequados; 
. Aceitar os êxitos e fracassos desportivos dos seus filhos, nunca considerando uma derrota como sendo um fracasso; 
. Aceitar os acertos e os erros como parte do processo formativo; 
. Ajudar os jovens a tomar as suas próprias decisões. Facilitar que os filhos tomem decisões em função dos seus objectivos e expectativas desportivas e aconselhados por quem entende de verdade e quem de verdade pode facilitar a sua progressão desportiva; 
. Propiciar o compromisso e a responsabilidade ante as suas decisões; 
. Interessar-se pela actividade desportiva do seu filho de uma maneira razoável. Tudo tem uma medida certa e é conveniente evitar os extremos; 
. Ser um modelo de comportamento em treinos e jogos. A imitação é um mecanismo de aprendizagem muito potente. Em muitas ocasiões, a forma como nos comportamos, é mais eficaz que as explicações ou instruções; 
. Respeitar os árbitros, os adversários e os colegas dos nossos filhos; 
. Exigir e propiciar uma comunicação fluida entre pais, dirigentes e treinadores. Fomentar uma disposição positiva de entendimento.
In crónica de Zé Fernando em PTjornal.com

Pais dispensáveis
Estes pais, muitos deles treinadores de bancada, devem ter consciência que do seu comportamento errado e incorrecto pode resultar:
. O seu filho perde concentração, porque sente ter de se preocupar mais com as suas instruções do que propriamente com o andamento do jogo;
. O seu filho fica nervoso. Sabe que se não jogar ao gosto do pai tem medo de o perder e, logo que chegue a casa, tem certeza de ouvir bronca da grossa;
. O seu filho fica confundido, ao entrar em contradição com as instruções do pai e a táctica do treinador.
. Num clube dos nacionais, onde tive o prazer de treinar durante 6 anos consecutivos, encontrei também um pai a que chamei “pai camareiro” porque, entre outras coisas, não autorizava que o seu filho bebesse da mesma água dos companheiros, que trazia de casa água e líquidos especiais para recuperar e, mal o jogo terminava, ia ao balneário ajudar o filho a despir, tomar banho e vestir, acabando a recolher o equipamento acabado de sujar. Com esta sua atitude ridicularizava o filho diante dos colegas.
In crónica de Zé Fernando em PTjornal.com


Já questionei os jogadores (sub-13) da equipa com que trabalho acerca de várias questões referentes a esta situação. Alguns deles preferem jogar sem que os pais estejam na assistência pois sentem menor pressão e conseguem ter um rendimento melhor. Por outro lado também existem casos em que o contrário se verifica porque os jogadores vêem na presença dos seus pais uma motivação e uma fonte de apoio. Há miúdos que sentem em demasia a pressão de vencer, imposta pelos pais; outros apenas entregam os seus filhos no clube não assistindo aos seus jogos nem acompanhando a sua evolução.
Ao fim de contas a conclusão a que posso chegar é que no futebol de formação existem mil e um casos e todos eles diferentes. A meu ver os pais devem procurar saber a melhor forma de ter um papel activo na formação do seu filho ao nível desportivo não interferindo negativamente nem criando condições prejudiciais que acabam por levar o seu filho ao insucesso. Acho que cabe também a nós (treinadores) e aos clubes que representamos sensibilizar os pais, fornecendo-lhes a formação e a informação adequada para que sejam prestáveis ao clube e para que tenham também uma atitude correcta na formação dos seus filhos.
O essencial é que os pais deixem os filhos crescerem naturalmente no mundo do futebol, sem pressão e sem pressas. Que os deixem viver o futebol de uma forma alegre e saudável, em que a paixão seja a mesma a cada vez que uma bola é tocada pelos seus pés. Nesses momentos deixem que sejam eles mesmos, e eles serão felizes!

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